Lá se vai a minha oferta de colaboração no Público, querem ver?

Espantam-me as crescentes semelhanças de método e de conteúdo que noto entre José Manuel Fernandes (JMF) e Luis Delgado. O director do Público (JMF) andará em alguma competição com Luis Delgado julgada frente a um eventual “espelho meu”? Assim parece…
Ah! As reticências…
Ora leia lá o Editorial de JMF, caro leitor, ontem (28 de Janeiro de 2004). Leu? E então? Será que só eu senti um jeito de Luis Delgado? A frase final rematada com as tais reticências é de uma desonestidade chocante num jornal que se dá ao respeito e respeita os leitores.
Podia terminar por aqui mas permito-me mais um pouco de chuva sobre o lago.

O director do Público pode gostar que se aumentem as propinas, eu até posso gostar que se aumentem as propinas (em termos!), agora estabelecer paralelos entre a lei inglesa que Blair conseguiu fazer aprovar ontem e a portuguesa é já bastante desonesto. Mas há pior… Bem pior é comparar o nível de preços das propinas dos dois países da forma simplista adoptada por JMF.
Insinuar que por cá ficamos muito aquém do sacrifício que é exigido aos ingleses é ofensivo. Ofensivo da nossa inteligência, entenda-se.

O director do Público sabe, e eu sei que ele sabe, que preços não são estritamente comparáveis, nem mesmo entre dois países que possuam a mesma moeda.
É necessário corrigir das diferenças do poder de compra, algo que é aproximado por um instrumento económico aferido em todos os países: as paridades de poder de compra*.

A desonestidade de José Manuel Fernandes reside precisamente nas más contas. Não fez as que se impõem para não ficar a comparar alhos com bugalhos.
A propina hoje é no Reino Unido de 1600 € diz o director do Público, o dobro da nossa propina máxima, acrescenta. Mas nada diz quanto a outros factores que nos permitam enquadrar a comparação. Quanto ganha um pai de um estudante britâncio? Ou um trabalhador-estudante? E quanto custa um Ford Focus 1.6 zetec cá e no Reino Unido? E um bilhete de cinema? E uma carcaça?
O nível da fonte de rendimentos médios tem um diferencial da mesma ordem de grandeza que separa o valor das propinas nos dois países? E os preços do cabaz de compras de uma família média britânica face a uma portuguesa também?

José Manuel Fernandes não fez as contas. Converteu libras em escudos – a tão intuitiva “moeda antiga” – mas não se deu ao trabalho de comparar o comparável.
Não lhe dou o benefício da dúvida porque tenho-o como jornalista inteligente e experimentado. Já o provou por diversas vezes, mesmo em calculatória. Resta-me então acusa-lo de desonestidade intelectual.
O que sabemos é que há por lá, no texto, umas reticências e algumas frases bombásticas que embrulham o jornal numa triste bandeira de demagogia.

(…)Apesar de ir bastante à frente de Portugal – na tradição de qualidade, na organização, também na forma como subsidia as suas universidades -, o Reino Unido tem ainda um longo caminho a percorrer, em especial no que respeita à autonomia das suas instituições e à possibilidade destas escolherem os seus estudantes (lutando pelos melhores) sem interferência do Estado, sem sistemas de quotas e sem qualquer comando centralizado. Mas com a medida ontem aprovada vai na direcção certa – e está a discutir, em moeda antiga, propinas de 900 contos ano, cinco vezes mais do que a nossa vilipendiada propina máxima… ” texto em itálico da autoria de José Manuel Fernandes publicado in Público

* Adenda: Notem que estou a dar de barato que os “produtos” – ensino superior público – são em si comparáveis o que é já uma hipótese demaiado forte.

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