E lá estou eu outra vez a meter-me com a Joana. Mas porquê? Não a conheço de lado nenhum, já me disseram que eram palavras inglórias, que não valia a pena, que era estar a dar destaque a quem não merece, que nem sequer é uma figura famosa da blogoesfera(!). É claro que vale a pena e é claro que nenhum dos argumentos que me emprestaram valem grande coisa. Dar réplica é um dos fundamentos da blogoesfera e por enquanto nada vi que me levasse a crer que a Joana a desmerecesse. Por isso e até nova reflexão que aconselhe o contrário cá vai disto:
No seu último texto, até este momento – uma referência à homenagem prestada pela Câmara Municipal de Lisboa ao recentemente falecido comunista João Amaral – a Joana destila a despropósito alguns clássicos contemporâneos sobre Esquerda e Direita. Uma espécie de axiomas recorrentes, absolutamente redutores que tentam recuperar uma suposta clarividência e simplicidade sobre o mapa político. Cheira-me mais a auto-convencimento, mas adiante. Axiomas que naturalmente oferecem uma versão cómoda e simplificada ao mais preguiçoso de quem é o bom e que é o mau da fita.
De vez em quando é conveniente ter estes “axiomasâ€? presentes e proceder à sua desmontagem. Um exercício que sendo para alguns mais batidos, já algo enfadonho, se recomenda como uma mezinha para evitar males maiores. A indiferença é sempre inimiga da saudável inquietação. E a Joana inquieta-me quando escreve coisas do calibre que li neste seu último texto. Os itálicos que se seguem são da Joana.

A esquerda é um deserto de ideias“.
Já vi ideias de alguma esquerda defendidas pela Joana nos seus textos. São breves escapadinhas da Joana ao deserto ou ideias oportunisticamente roubadas pela esquerda? A chatice é “as coisas” insistirem em ser complexas, cheias de tonalidades. São tão assim que fazem parecer tontas as pessoas que escrevem que “A esquerda rege-se por princípios” por oposição à direita que “ é mais pragmática“.
É o que me parece a mim Joana. Não vale a pena ofender-se.
Para não voltarmos a entrar em rodriguinhos e em incompreensões pego num exemplo. E, relembro-lhe, um exemplo é tanto mais poderoso quanto mais absoluta é a verdade que pode desmascarar:
Celeste Cardona (uma ministra, da justiça, de um partido de direita) quando negou terminantemente considerar sequer a hipótese de combater o flagelo (que reconheceu) da proliferação da Sida nas cadeias, via salas de injecção assistida, conforme sugestão do Provedor de Justiça, foi pragmática ou seguiu um princípio?
A ministra reconheceu o problema porque este é inegável, há manifesta incapacidade de por cobro a curto prazo ao problema da toxicodependência no interior das cadeias. Mas então o que fez ela? Falou em princípios… Condenou à morte quantos prisioneiros por uma questão de princípio? Onde estava aí o seu pragmatismo para enfrentar um problema de saúde pública? Que alternativas eficazes apresentou?
Só se o seu pragmatismo foi o do: Deixem-nos morrer! Tem o que merecem!
Para mim, um tipo de esquerda, inevitavelmente da única que a Joana reconhece, a dos princípios, isto não são opções admissíveis no pragmatismo de ninguém. Será que a Joana tem mesmo razão? Se assim for, olhando para este exemplo, percebo afinal que “A esquerda rege-se por princípios” por oposição à direita que “ é mais pragmática“.

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