Recomenda-se a leitura prévia deste artigo no Semiramis.

Cara Joana,
Não será um pouco curto acreditar que mais do mesmo (só e apenas moderação salarial) resolverão o problema?
E que tal olhar para outros aspectos do problema como o nível de instrução dos gestores de boa parte do tecido produtivo nacional? Só para dar um exemplo pouco corrente.

A moderação poderá ajudar num típico fine-tunning, mas não resolverá nada.
É indispensável? Eu diria que sim: a moderação. Mas sejamos justos com a conotação da palavra. Moderação Salarial dá para tudo, dos aumentos marginais às diminuições consideráveis em termos reais. Recomendaria moderação na dose certa para não estrangular a procura interna e não criar novas falsas ilusões. Uma moderação que deveria ser medida sector a sector, ajustada às realidades do respectivo dinamismo económico e assim determinada pelos agentes económicos responsáveis.
O efeito de contenção pelo exemplo aplicado à esfera pública poderá ser pernicioso nestes casos. É muito fácil encontrar a colagem fácil e ignorante de muitos empresários de vistas-curtas. Se por exemplo a Banca apresentar fortes ganhos de produtividade porque havemos de defender a moderação salarial?
Na administração pública o Estado também deveria ser capaz de avaliar a produtividade de cada área da administração e implementar, dentro de um enquadramento de contenção, uma política salarial distinta para o que é distinto. Espero com alguma expectativa o que se prepara para os Institutos Públicos, por exemplo. Feita a ressalva admito que a meta global na administração pública devesse tender para um aumento real nulo no próximo ano. Um crescimento da massa salarial ao nível da inflação prevista (numa previsão realista!).
Agora que já brinquei ao merceeiro falta o que interessa, o que nos poderá salvar do tal cenário de recessão agravada e de mais desemprego. Falta o que é mais difícil e que não surge com passos de mágica, focando-nos apenas nos estabilizadores macro-económicos. Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivo (particularmente na área da investigação científica e no apoio a novos negócios) à custa de algum desequilíbrio de curto prazo nas finanças públicas. Só não vê quem não quer que não há investigação e desenvolvimento neste país (o anglo-saxónico R&D) em volume satisfatório além da esfera pública. Nem há perspectivas de mudança significativa desse cenário. A natureza desse tipo de investimento não se coaduna com quebras abruptas de financiamento ou desprezos legislativos de ordem cirúrgica. Deveria ser uma daquelas questões de Estado. Racionalize-se o que se quiser mas não se perca a noção da importância e do carácter fundamental desse investimento. O seu efeito multiplicador potencial é demasiado significativo para poder ser ignorado e mal amado.
Voltando ao cenário da investigação e desenvolvimento: é o que temos, ou seja, temos de investir colectivamente nesta área. Cativando os cérebros que temos e nos escapam e promovendo a implementação das descobertas junto do tecido empresarial (ainda tenho esperança que haja quem venha abrir os olhos se devidamente avisado). Como vê tudo tarefas que levam algum tempo, talvez não as gerações de que já se falou. (Veja-se a interessante perspectiva do Sérgio Figueiredo hoje no Jornal de Negócios em Editorial.)
Assim talvez conseguíssemos algo de sustentável.
O modelo de mão-de-obra barata é perfeitamente ilusório. Apostar quase exclusivamente na moderação salarial, apresentando-a como bandeira, num contexto como o actual, em que começam a haver sinais de instabilidade social, poderá ter consequências políticas e económicas pouco desejáveis, no mínimo contraproducentes… É preciso indicar outro caminho, que seja mais credível (sem abandonar a moderação…).
É pena que, por exemplo, ao nível da reforma do contrato de trabalho se tenha ficado tão aquém do que seria desejável, restando pouco mais do que uma triste imagem da fraqueza política ao nível da visão estratégica.

Mais do mesmo cara Joana? Até parece que há por aí um manual incompleto ao qual faltam as soluções para este nosso pequeno grande problema. Discutamos algo um pouco mais ambicioso para variar.
Os melhores cumprimentos.

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