Cara Joana,
Andamos os dois a fugir à teoria pelos vistos. Como a Joana escreve “(…)O futuro não se constrói com modelos teóricos. Temos que construir o futuro, mas arranjar também soluções para o presente. (…)“. Estamos de acordo. Não me parece é que haja alinhamento no “quando” é que começa o futuro para as medidas que propus. Uma cronologia que anda há 30 anos (como diz a Joana e eu agora acrescento) há espera de uma oportunidade face à urgência dos problemas de curto prazo.

Voltando ao que escreve a Joana:
(…) Você quando escreve “Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivoâ€? parece o PR a falar. É óbvio que isso tem que se fazer (aliás, já devia ter sido começado há 30 anos), mas isso são acções que demoram muitos anos a surtir efeito. Até lá temos que viver com o que temos e geri-lo da melhor forma possível.

Este é o melhor discurso para tais acções nunca serem implementadas, na eventualidade de alguém as tentar implementar, há já uma expectativa demasiado precária para que haja motivação empreendedora.
Infelizmente, não podemos ficar à espera que o mundo volte a ser benévolo para iniciarmos o processo. Resta a questão da duração, do tempo até se verem resultados. Também aqui não acredito em nenhum preconceito. Olhando para a imagem que se criou do “modelo” Irlandês e evitando considerações mais profundas e reveladoras, se o tentássemos reproduzir teríamos de esperar uma geração até sentirmos efeitos na economia. Lembra-se do discurso inicial do actual Governo que ia neste sentido? Nada do que seria fundamental foi implementado. Tudo porque o curto prazo era demasiado urgente… Já perdemos mais 2 anos…

Quando vejo, por exemplo, a modernização que ocorreu ao nível da banca portuguesa (que era no mínimo tão retrógrada quanto a administração publica de então, aliás era administração pública…) ou quando vejo os exemplos da indústria de moldes, de desenvolvimento de software (das poucas onde o investigação e desenvolvimento é relevante) acredito que é possível saltar etapas. Há éne sectores com o mesmo grau de liberdade que tem a banca, porque não tiveram eles a mesma evolução? Falta de massa crítica ao nível da gestão? É possível o Estado dinamizar lavagens cerebrais benévolas com o apoio das organizações do sector quando as houver? É possível o Estado desenvolver parcerias com os empreendedores apoiando investimentos de alto risco em área de elevado potencial de retorno económico?
Acredito que é possível haver um empurrão com patrocínio estatal cirúrgico em alguns sectores. Mais uma vez repito, acho que se perdeu uma excelente oportunidade ao nível do contrato de trabalho para se estimular a modernização de toda a economia.

Escreveu ainda a Joana:
Aumentar a despesa é aumentar a procura interna e com a elevada propensão marginal à importação da economia portuguesa é agravar substancialmente o défice de transacções com o exterior.

Estas verdades absolutas desculpadas por raciocínio médio macro-económico desconcertam-me cara Joana. Também o economista/decisor público pode descer à rubrica. Tentar a tal cirurgia. Evitar centrar-se nos bombásticos choques globais disto ou daquilo.
Não tenho uma teoria em que me encaixe confortavelmente e sempre que vejo na prática negações singulares destas regras passo a toma-las como duvidosas. Não há investimento público reprodutivo, multiplicador? É essa uma das suas verdades? Todo o investimento/despesa implica canalização nefasta para o défice da balança comercial? Se pensa assim, neste ponto, estamos conversados. Poderei apenas tentar mostrar-lhe alguns exemplos que negam este axioma se desejar. Ou a sua convicção vem do desempenho histórico dos sucessivos governos? Pareceu-me que é isto que pensa e perante esta experiência empírica tudo o que eu diga é teórico e inglório, dai a contenção salarial. Percebi bem?

Ainda a Joana:
Nós estamos com um nível salarial superior à produtividade média. Por isso é que temos os défices. Temos que repor a saúde da economia, senão continuaremos com uma inflação superior à média europeia, a perder competitividade no tecido económico e a aumentar o desemprego. (…)

Repor a saúde da economia… Das finanças públicas, queria dizer?
É que passar das finanças públicas para a economia não vai lá com psedo-défices de 3% suportadas por contenções salariais, receitas extraordinárias e cortes estúpidos, em termos de eficiência dos desígnios do Estado, na despesa pública, só para imaginar um cenário bem nosso conhecido.
O que fazer? Assim que puder hei-de ler os textos da Joana com atenção em busca da sua opinião nesta matéria.
Até breve.

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