No início contaram-me que o governo não tinha boys de qualidade para assessorar alguns ministérios… Rimo-nos.
De seguida, contaram-me que havia boys para nomear para a gestão dos hospitais mas poucos entre eles tinham competência e experiência de gestão. Alguns, aparentemente, tinham currículos que não justificavam, pelo elevado risco presente, o cargo de gestão de algumas mercearias de bom nome. Vimos os exemplos, ouvimos as histórias (muito poucas chegaram aos jornais) e não encontrámos motivos para risota…
Depois, contaram-me que os novos hospitais privados andavam (e andam) a pagar exorbitâncias para cativar alguns profissionais competentes. Muito mais do que pagam a um funcionário público, talvez esse mesmo funcionário que entretanto se desvinculou ou mudou de área de residência…
Por fim, começaram a chegar a público as “más vontades” quanto à prestação de cuidados terapeuticos e realização de exames a pacientes mais “complicadosâ€?, mais dispendiosos, ou não prioritários nas novas linhas de gestão. Estes prontamente eram despachados para casa ou, na melhor das hipóteses, para os hospitais centrais ainda públicos engordando os seus défices, exacerbando assim a prova provada da sua ineficiência…

Tudo isto era previsível, tudo isto foi previsto. Havendo inteligência no topo, inverto o ónus constitucional: até prova em contrário, o governo está a agir de má fé. Usa o terrorismo para destruir o serviço nacional de saúde naquilo que ele tem de mais nobre e valioso.
Digam-me que estes exemplos não são verídicos, provem-me que tudo isto é mentira, que não há uma relação directa entre a mudança realizada e os casos que se avolumam. Ou então assumam que isto é uma opção política, que estes são os seus custos colaterais, que não temos dinheiro para manter o sistema de saúde e que temos de lhe fechar as portas. Se me disserem isto far-lhes-ei então outras perguntas. Falaremos do Banco Atlántico e dos aumentos de capital da CGD, falaremos dos submarinos, falaremos da “contenção” orçamental na Madeira, falaremos da aquisição de material de transporte em alguns ministérios, falaremos da dimensão da intervenção militar no exterior, falaremos das medidas preventivas de ataque a doenças infecto-contagiosas, falaremos da cruzinha nas receitas dos médicos, falaremos da ausência de regulação da relação banco-cliente, falaremos de perdões fiscais, falaremos de benefícios fiscais, falaremos das farmácias sociais, falaremos até do choque fiscal no IRC. Falaremos?

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