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não têm signo nem fronteira.

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A fé, o optimismo e a determinação

05.12.2003 por Rui Cerdeira Branco Categoria Economia

Cara Joana para já dispenso-me de discutir detalhadamente os fundamentos primordiais da ciência económica pois até aí, face ao que disse (demasiado redutor) teria muito a dizer. Mas já que discutimos princípios básicos falo-lhe num parágrafo (e aos leitores) da forma como encaro o papel da Economia na sociedade.

Sublinho que prezo muito a vertente histórica da Ciência Económica (não será Economia essencialmente um exercício de compreensão do passado?) e considero que a capacidade da Economia e das suas mais famosas teorias em fornecerem um manual de procedimentos adequado para a resolução do dilema necessidades/recursos (para pegar na sua dicotomia) se encontra demasiado sobrevalorizada. Ainda temos muitos passos a dar nesta jovem ciência e muito provavelmente pede-se mais dos economistas do que aquilo que eles deveriam considerar-se capazes de dar. Acresce ainda que temos a mania de nos levarmos demasiado a sério. Demasiadas asneiras se fazem e fizerem em nome da Economia, o tenebroso economicismo. Mas enfim, é possível que sejamos uma das melhores hipóteses da sociedade para tentar resolver alguns dos seus problemas, para decifrar com maior ou menor probabilidade as causas e efeitos de algumas acções em sociedade. Notem que sou economista…

Respondendo a este último texto da Joana: A Alemanha do Pós-Guerra? Confesso que aqui a Semiramis foi desconcertante. Esta lição da história não percebi… Se não lesse o resto do seu texto estaria preocupado mas os pensamentos negros que me passaram pela cabeça foram felizmente desaparecendo com as suas restantes palavras. Há muitas interpretações possíveis do exemplo que deu. Não sei bem o que entender dessa referência… Se quiser ajudar a colmatar esta minha limitação disponha, se não quiser ter a paciência também não lhe levo a mal.

Em vez de continuar um taco a taco vou tentar sintetizar o que entendi do que a Joana escreveu e que me pareceu ser ponto de discórdia.
A Joana diz que não a entendi que nunca colocou o curto prazo à frente do longo prazo que tudo está integrado e tem de ser resolvido em conjunto… Ou seja, pelo que diz que estamos de acordo. Se assim é não consigo perceber o que quis dizer quando me respondeu com estas palavras que aproveito para colar à prioridade que destacou no primeiro texto:

Disse: «Você quando escreve “Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivoâ€? parece o PR a falar. É óbvio que isso tem que se fazer (aliás, já devia ter sido começado há 30 anos), mas isso são acções que demoram muitos anos a surtir efeito. Até lá temos que viver com o que temos e geri-lo da melhor forma possível.»

Permita-me uma interpretação mais coloquial inspirada neste seu parágrafo e à luz do resto que escreveu: ok é preciso ter essa ambição à la Presidente da República, tudo isso é muito bonito mas não passa de lirismo. Temos é que controlar o défice com a realidade que temos, custe o que custar para não fazer das empresas uns aleijadinho a nível internacional. “Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada e o investimento público reprodutivoâ€? não passam de palavras vãs muito distantes de terem consequências práticas. É preciso medidas concretas e de eficácia no curto prazo como a contenção salarial.
Foi contra esta interpretação das suas palavras que escrevi. Contra essa ideia de aquilo que demora muito tempo não dever ser a prioridade nestes tempos, este é um tempo de decisões clara e é preciso claramente conter os salários ponto final. Esta lógica é no mínimo desonesta. Como andamos há anos a tentar e não conseguimos mude-se a página, feche-se a loja e deixem-se os empresários trabalhar. Mas ao mesmo tempo a Joana disse que era óbvio que as tais medidas do PR são fundamentais… Disse-o por ser politicamente correcto? Para mim é mesmo preciso encontrar outros caminhos para pegar nesses velhas bandeiras (algumas nem tanto). Hoje! E de forma mais determinada e urgente do que aquela com que defende o equilíbrio das finanças públicas via contenção salarial e, já agora, congelamento quase absoluto de contratações. A sua aposta em absoluto no lado da oferta sem estimular minimamente a procura também não me inspira grande sucesso. É preciso que se diga como acabou já por dizer que a política de contenção se deve aplicar a que m não é produtivo esteja ou não no sector privado. São pequenas coisa que contrariam as generalizações e que são muito relevantes. Tudo o que seja 8 ou 80 no que toca à economia costuma produzir efeitos desastrosos. Mas não me alongo por aqui que o texto já vai longo.

Entretanto no meu penúltimo texto tentei perceber até que ponto acredita naquilo que diz. E aquilo que disse, se bem se recorda, passava pela demonização em absoluto da função pública e “das empresas à mesa do orçamentoâ€?, das Universidades pela sua genérica incapacidade criadora e carácter feudal e por ai fora. Generalizou abusivamente e perdeu qualquer credibilidade ao fazê-lo.
Folgo em notar agora, no seu último texto, que afinal pelo menos no que toca à Universidade a sua convicção não vai além da faculdade de Economia que conhece, admite até que em Engenharia os vícios e a capacidade dos centros de investigação não sejam tão graves. Quando falei em centros de excelência que devem continuar a ser apoiados e gerados com o estímulo do investimento público estava naturalmente a pensar além da faculdade de economia que conheço com os seus pequenos quintais, pensava naturalmente nos tais outros centros que são de excelência não por que o político queira mas porque a comunidade cientifica internacional e nalguns casos o próprio mercado o dizem. Centros que, contudo, como já disse, definham (particularmente desde que chegámos à obsessão do défice) e em muitos casos por manifesta falta de visão da iniciativa privada nacional e também do Estado perdem para o exterior a fase que poderia trazer o maior valor acrescentado para a economia nacional. A questão do Feudalismo é distinta e merece uma abordagem específica. Recomendo que não se ponho tudo no mesmo saco no sentido de se faça depender uma medida indispensável e útil a implementação de uma reforma (não vá o diabo tece-las).

Quanto à questão da reforma da administração pública noto que a Joana voltou a generalizar passando ao lado de algo mais particular que eu propunha e que se cingia à administração fiscal. Com a proverbial demora das grandes reformas passa desde já um atestado de impossibilidade a uma mexida nessa área específica? Nessa área específica acho que um simples modelo de gestão com provas dadas no privado fará sem grande esforço justificar com retorno os investimentos que se façam. Haja um mínimo de vontade política. Estamos a falar de uma cobrança, de mais cobradores, mais fiscalização mais meios humanos essencialmente e eventualmente uns toques a nível legal. É óbvio que há espaço para melhorar na administração fiscal. Faça-se uma micro reforma Joana. Deixemo-nos de mega operações de reestruturação da Função Pública as tais que andam em bolandas há 30 anos. Enquanto se discute, se arrasta o processo global cujo fim a Joana já tão bem conhece (incapacidade política de resistir aos poderes feudais dos trabalhadores e estruturas de poder internas) porque é que o poder público não há-de receber dos economistas a sugestão de ir fazendo micro-reformas? Hoje a administração fiscal, amanhã os notários, depois o enquadramentos dos medicamentos (genéricos), as lojas do cidadão… Consigo fazê-la recuperar a “esperança juvenilâ€? de que é possível mudar o aparelho do Estado com esta matreirice de enfrentar um lobby de cada vez? Deixar de pensar o Estado com profundidade porque é preciso combater o défice e porque não há nada para pensar pois já se sabe que é mau é o maior disparate a que assistimos.
Quanto mais troco impressões com a Joana mais optimista fico, mais distante me sinto de algumas ideias fáceis (desculpe o adjectivo) em que já me revi.

Não é que seja muito relevante mas já que referiu o seu percursos digo-lhe que este meu optimismo juvenil foi sendo construído depois de acabar o curso. Passei por uma ultra dinâmica multinacional (com muito a ensinar a muitas empresas e também muito a aprender) através da qual pude contactar com empresas de todos os sectores de actividade, depois trabalhei numa PME e até já conheço por dentro uma instituição pública em profunda ebulição reformadora. Não me deslumbrei com nenhum dos mundos. Há muito para fazer em ambas as esferas e há também muitas coisas boas a funcionar, por vezes no mais insuspeito e indevidamente mal catalogado lugar. Haver quem tenho olho é que é difícil, tal como naquela multinacional de chicos-espertos de que falei num outro texto desta série de debate.
Não gostei de todos os efeitos da regulação pelo mercado – exploração laboral próximo da escravidão e destrutiva de qualquer tentativa de estruturação de uma família por exemplo – nem da lógica vigente na parte função pública que conheci (onde a avaliação de desempenho está ausente e não há o mínimo sabor meritocrático). Dai a concluir que o monstro do aparelho do Estado é imutável e não há instrumentos que estão por aplicar para o mudar substancialmente num prazo de uma ou dias legislatura já é outra história.

Em certa medida o Estado precisa de exercer o seu poder libertando-se dos condicionalismos que o tolhem. Mas que condicionalismo são esses Joana? O dos sindicatos? Sim. Sem dúvida. Há situações de aproveitamento abusivo do contrato geral do trabalho e havia já muitas formas de os limitar que foram sendo ignoradas pelos sucessivos responsáveis. Uma situação muito semelhante à tal multinacional da chicos-espertos de que falei num texto anterior (já me repito não é?).
Mas há outros condicionalismo, o das pressões dos tão beneméritos e esforçados agentes económicos de mercado que se recusam a querer e a deixar o próprio Estado liberalizar o próprio mercado. Um efeito perverso muito interessante e de raiz histórica seguramente mas não só… Há lá grande empresa que se preze que não tente manietar o Estado na implementação de medidas que reforço da concorrência? Porque é que o mercado não “regulaâ€? esta atitude dos empresários? Eles deviam perceber quão bom é, para todos, haver mais liberalismo, no entanto, parecem não o desejar para o seu sector. E aqui arranjo-lhe exemplos desta prática em todos os países do mundo independentemente do grau de liberalismo vigente. É uma falha intrínseca mesmo para países que não tiveram o tal condicionalismo histórico do paternalismo da ditadura.
A gestão do Estado é também uma responsabilidade nossa, somos nós os micro accionistas. Ainda acho que podemos fazer alguma coisa além de fechar a empresa…

O que mais me preocupa no pensamento da Joana não é o seu pessimismo mas antes as suas certezas, o carácter definitivo do seu diagnóstico que justa ou injustamente tenho ouvido na boca dos actuais governantes para justificar as maiores barbaridades como a lei da rolha na contratação de funcionários públicos por exemplo. Não atribuindo tais responsabilidade à Joana noto a evidência das semelhanças teóricas entre os dois discursos.
É a facilidade com que parece pegar em casos pessoais para extrair certezas que me apoquenta (note que os meus têm contribuído para lançar a dúvida e abandonar certezas parecidas com as que a Joana perfilha). Com o congelamento, a não renovação de contratos de trabaljo, por exemplo, o Estado perdeu anos de formação, alguns dos seus melhores profissionais e muito provavelmente a sua melhor esperança para conseguir implementar as tais reformas, ou melhor ainda, as micro-reformas que se adivinhavam com as reestruturações, revisões do código de trabalho (contratação colectiva) e afins.

Cara Joana não me chame irrealista, há sempre uma faceta da realidade que nunca conseguimos ver. Boa parte do que a Joana transmite julgo que já outras Joanas e eu próprio conhecia, mas ainda assim acredito sempre que tenha algo de novo e interessante para eu acrescentar à minha percepção do mundo (hei-de ler os outros textos seus…). O melhor que eu posso querer é ir propondo humildemente algumas boas perguntas, aventar com alguns bons exemplos, demonstrar empiricamente as falhas no raciocínio e de prática de outros, de preferência através da experiência passada e sonhar um bocadinho na esperança de ter um sonho criativo com alguma utilidade.
Achei curiosos que não sendo religioso me atribua fé. Se for um crente crítico, daqueles que duvidam todos os dias e só assim concebem viver as suas crenças, não me parece que seja grave num economista optimista e voluntarioso que vou descobrindo, até me parece recomendável.

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One Response to “ A fé, o optimismo e a determinação ”

  1. 1
    #1 Semiramis Says:
    December 5th, 2003 at 10:19 pm

    Descrença, pessimismo e indeterminação

    Resposta ao Rui do Adufe Como já lhe escrevi diversas vezes, o diálogo pressupõe que cada um entenda o que o outro escreveu e argumente sobre esse entendimento. Eu permito-lhe, como pediu, todas as interpretações coloquiais que entender. Agradecia toda…

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