Arranjei dois minutos para ler os jornais. Os económicos de hoje e o Público de segunda feira. Lendo as notícias de ante-ontem sou assaltado por uma sensação estranha. Fico com a impressão de que há alguma vantagem neste exercício. As letras parecem mais nítidas, o que mais me interessa revela-se com mais facilidade. Vou-me surpreendendo com prazer.

Julgo não errar em citar uma prática que José Pacheco Pereira revelou seguir num programa da TSF do século passado. Dizia que não lia novidades literárias, deixava ficar os livros repousar durante uns anos para então lhes dar uma oportunidade. E agradava-lhe esse período de nojo. Se a memória não me atraiçoa lembro-me de o ter ouvido discorrer sobre as vantagens desse ritual. Hoje recordei-me dessas palavras nas páginas de um jornal. Há muito que só se vê com a devida distância. Tal como aqui, na blogo-esfera, há um mundo de revelação se contrariarmos o carácter efémero, a continuidade inexorável do tempo na leitura da imprensa.
Nos blogues, com os motores de busca e com os comentários, já me surgiu essa surpresa. Um texto, uma polémica antiga, ressurgem com um comentário empenhado e renascem mesmo com mais intensidade chamando de novo os interlocutores do passado. Outras vezes vêm à memória os velhos textos por gerarem um breve aconchego na alma de alguém que por aqui se revela em poucas palavras.
A tendência mais forte é a do jornal que se lê e se deita fora mas fico particularmente satisfeito quando me chamam de novo para um texto antigo como se lessem um livro submetido a um período de nojo.

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