Quando há paixão, quando nos marcam, quando seguimos um exemplo é sempre mais difícil a distância, é mais comum a reacção exaltada.
Não digo novidade nenhuma, mesmo quando falo da relação que alguns de nós tivemos e temos com uma emissora de rádio. Na semana passada pedi contributos sob pretexto da algo provocadora e algo exagerada frase: “Porque gostávamos tanto da TSFâ€?. As reacções vieram do Mariano Serra, da Gin (Gin Tónico), do Pedro (pixeldust), da Ana, da Elsa Costa, do Rui (O Bisturi), do Fernando (Cidadão do Mundo), do Nuno Peralta (Janela para o Rio), do Carlos Fontes e da Cecília.

Alguns exacerbaram a traição outros puseram água na fervura.
O Pedro, por exemplo, sintetizou bem qual a herança da TSF que esperávamos que se continuasse a honrar:
“Eu gostava muito da TSF porque ela transpirava aquilo a que se chama de “paixão da rádio”.
A TSF não nivelava a inteligência dos seus ouvintes por baixo como agora acontece.
A TSF tinha uma agenda própria, no que à música diz respeito.
A TSF não fazia promoções a música fast-food.
Hoje em dia está completamente embrenhada em playlists mais que duvidosas, que apenas servem para afastar os seus ouvintes, outrora fiéis.
A TSF era a casa ideal para dezenas de profissionais que tinham um ponto em comum: o amor à rádio.
Hoje nem sequer respeitam os que lá ficaram.â€?

Mais directa e focando algumas das novidades a Ana estrebucha (e eu com ela):
“Não se aguenta. Não se aguenta ver aquilo em que transformaram a paixão da rádio – que não era só a deles, a de quem a fazia, mas também, e muito, a de quem a ouvia – o que não é pouco. Quem será que eles – os que tomam as decisões – julgam que ouve a TSF? Será que acham normal “A Idade da Inocência”, aquela rádio pré-gravada, tudo montadinho e pronto para ser repetido ad aeternum? Acharão os outros, os que ouvem, normal um programa sem alma, sem gente a fazê-lo, só a voz da Margarida Pinto Correia e o som que ela pelos vistos acha que nos fazia falta, aqueles temas requentados da pior pop de sempre? Que farão os animadores de serviço à antena, enquanto aquela alarvidade vai para o ar? Isto é menos do que nivelar por baixo, isto é um insulto para os radialistas como para os ouvintes. É um horror, aquilo em que estão a transformar aquela que foi a rádio de todos – mesmo daqueles que ouviam outras estações. A TSF é a TVI da rádio.â€?

A Ana remata com um exagero apaixonado, esperemos que nunca tenha razão na comparação. Mas que custa, custa… Não é Elsa Costa?
“Custa-me ver aqueles outdoors e aqueles anúncios de imprensa a promover as novidades da nova TSF. Desde quando é que os mais velhos têm ideias, projectos inovadores? Será que a TSF precisava dos velhotes Margarida Marante, Carlos Pinto Coelho, e mais aquele careca da economia? Não chegam os lugares comuns a que não podemos escapar? precisávamos de mais estes? De que novas abordagens serão capazes estas velhas carcaças sobreremuneradas?â€?

Esta última é violenta para o António Peres Metelo que agora regressa e que personificou durante muitos anos o serviço público de ensino de economia para leigos na antena da TSF. Mas percebe-se a dúvida. Porquê mexer em equipa que ganha? Porquê dispensar goleadores? Há sempre espaço para novidades, para reforços mas prova fraqueza e pouca inteligência uma direcção que só se sabe afirmar em cima dos escombros do trabalho da anterior, seja ele bom ou mau. Só o que sobrou era bom? Tudo o que desapareceu comprometia os objectivos? A �ntima Fracção, era um deses exemplos ??
Somos todos treinadores de bancada no que se refere à TSF, não é Fernando Correia?

Adiante. Apesar do Mariano não se contentar com uma imitação inferior, o Rui do Bisturi constata a propósito dessa mesma “imitaçãoâ€? que:
“Para quem quer manter algum nível cultural e de rigor informativo, só resta a Antena Um.â€?

O Fernando retoma a linha da Ana e sublinha :
«Gostavamos». Pretérito imperfeito. Muito bem.
O presente do indicativo não faz sentido. A TSF já não existe.

Mas o Carlos Fontes reflecte e chama-nos à razão, obriga-nos a reconhecer que são talvez demasiado precipitadas as conclusões fatalistas, devolve-nos com isso alguma esperança sem nos apagar a sensação de perda e os receios sobre o futuro:
“Apesar da desilusão provocada pela recente playlist, a TSF continua a ser a rádio com melhor informação. O período da manhã e o fim de tarde têm uma dinâmica informativa notável. E continuam na grelha programas como o Fórum e o Pessoal & Transmissível, que não sofreram qualquer alteração de tipo editorial. Parece-me que as declarações sobre a morte da TSF se enquadram numa campanha em defesa da Antena 1, que apesar de plagiar descaradamente a TSF sofreu um rombo nas sondagens.â€?

Confesso que nada me move em defesa da Antena 1 e passam-me completamente ao lado guerras de bastidores entre rádios. Reconheço apenas que, apesar da irritação profunda provocada pelas escolhas musicais que me levam amiúde a mudar de emissora, tenho regressado para o Pessoal e Intransmissível, para os noticiários, para os relatos desportivos como muito bem ressalta o Nuno “(…) ainda continua a ter os melhores relatos de futebol.â€? O Nuno alarga aliás a lista das perdas recordando:
“Eu também gostava da TSF.
Hoje consigo ouvir um pouco das manhãs, mas ainda assim partilhado com a Best Rock (que também só se consegue ouvir durante o programa da manhã).
O que eu sinto efectivamente falta é dos fins de semana, da Ã?ntima Fracção, do Freud & Maquiavel, das Conversas do A.T.Telles, do Grande Jurí…
E sinto falta daquela “paixão da rádio”, que hoje é mais uma “pastilha da rádio”.
Salvam-se da nova grelha os Cromos TSF (especialmente o António Feio, a Rueff e o José Pedro Gomes às 2ªs, 3ªs e 4ªs) e alguns directos matinais.
Dantes gostava da TSF, agora é apenas mais uma rádio…â€?

Para concluir, a Cecília aborda a irracionalidade económica aparente. E lança a dúvida que também me assalta e me deixa mais inquieto.
“Sobretudo não percebo a quem serve esta mudança. A TSF tinha um público muito filtrado. O seu sucesso era um facto conseguido, precisamente, por ser dirigido a esse mesmo público que encontrava na TSF a diferença e a qualidade. A actual normalização, em curso, descaracteriza-a, desqualifica-a, torna-a vulgar. Enfim, mataram a TSF!â€?
Vão matando aos poucos. Será verdade que a redação está “no ossoâ€?? Que se avizinham despedimentos, que se desistiu definitivamente de marcar a agenda noticiosa indo onde outros não vão? É o que parece ouvindo tudo o que seja noticiario fora dos dias de semana ou fora dos programas da manhã e da tarde… Como ir ao fim da rua, ir ao fim do mundo sem a TSF?

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