Os Três Dês e a Nota Final (continuação)
2. David Urbano

Metropolitano de Lisboa, três e meia da tarde. Lá fora, nas estações, a agitação era pouca, as caras sucediam-se dispersas pelas gares, os olhos raramente se desprendiam do infinito para procurar algo, e menos ainda para procurar outros olhos. Quando por acaso esse milagre acontecia, quando por acaso os olhares se cruzavam, um milagre ainda mais raro poderia então ocorrer, poderiam partilhar-se perguntas, emoções, sentimentos, histórias do dia que se vivia ou de toda uma vida. Tudo durante poucas fracções de segundo.
Um pouco como um jogador de roleta (russa), David arriscava-se nesse jogo perigoso de se mostrar aos outros, sem saber se o que veria seria uma imagem cautelosamente distorcida ou simplesmente escondida atrás de um espelho impenetrável; sem saber se a imagem seria enfeitiçante ou surprendentemente surprendente…David jogava, certo que nunca poderia antever até que ponto se expunha. À sua maneira achava-se um cruzado, um combatente pacífico em busca da valiosa arca escondida. Alguém que só pilharia se movido por perniciosa ingenuidade, imperceptível egoismo ou puro mau jeito.
Não vos digo qual será a sua sorte, sei apenas que pilhará muitas arcas, a muita gente.

MC White – Março de 1995

(1º Episódio aqui falta editar: 3º Dário Sintra e a Nota Final)

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