Faço minhas as suas palavras IX
John Steinbeck
Encontro n’As Vinhas da Ira, de Steinbeck, uma das minhas obsessões: “Faça como eu, como todos os que estão na cadeia. A gente não pode pôr-se a pensar no dia em que será solta. Endoidecia. A gente pensa no dia de hoje, no dia de amanhã, depois no jogo de futebol de sábado e assim por diante. (…) Os mais velhos fazem assim. Só os novatos encostam a cabeça às grades da cela e ficam a cismar.”
Não é viver um dia de cada vez, como diz o cliché: é estabelecer metas curtas, mas apesar de tudo metas — metas palpáveis como o jogo de futebol de sábado, um almoço em família no fim-de-semana seguinte, o reecontro de um amigo na semana posterior, a distribuição de um livro esperado poucos dias depois.
Disse-o aqui há umas semanas, citando uma entrevista de José Manuel Osório, como se fosse uma descoberta. Steinbeck dissera-o com mais simplicidade e mais eficácia há quase 70 anos: Somos todos prisioneiros, e o melhor que temos a fazer é sermos velhos prisioneiros, conformados com o nosso cativeiro.
in Não esperem nada de mim
Porque faço minhas as suas palavras, porque também vou “inventando” pequenas metas todos os dias e porque As Vinhas da Ira concorrem para a restrita lista dos livros da minha vida.
October 7th, 2003 at 2:31 am
Um livro inesquecível.
Falta-me ver o filme realizado por John Ford, mas já me constou, pelas palavras trocadas com quem viu o filme, que a parte final é diferente do terminus do livro. A passagem da amamentação do esfomeado, que ocupa o lugar da criança que desaparece no ventre, é marcante. Tal como nos marca a admiração que o irmão mais novo tem pelo mais velho e como ela se dissipa à medida que se vão conhecendo. Tal como nos marca o saltitar constante daquelas pessoas, tal como… o livro é inesquecível.
Obrigado Rui, por neste universo colocar um nome tão universal, como é o de Steinbeck.
October 7th, 2003 at 10:13 am
Os agradecimentos devem seguir directos para o jornalista e escritor Joel Neto. As palavras são quase todas dele (ver referência ao blog no post). Eu limitei-me a tocar o Adufe na esperança de que mais alguém as leia. Já valeu a pena!
October 8th, 2003 at 3:14 am
Caro Rui,
Nesse caso, que o agradecimento siga para o Joel Neto, mas que parte, faço questão, fique nesta casa, ou seja, no Adufe.
Tenho pouco tempo e só consulto alguns “blog’s”, os que gosto, como este e, por isso, recorro à lista disponibilizada pelo “Ter Voz”.
É-me, de todo, pouco possível, navegar pelos outros espaços.
Cumprimentos,
CMC