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O que está em questão? A reutilização de embalagens é solução? Pagar a quem produz o lixo para o separar é exequível? Como rentabilizar o processo de reciclagem? Como aumentar os índices de lixo reciclado? O que é reciclável? O que fazer com o que não se recicla? Que experiência de reciclagem há noutros países? Da discussão entre os dois interlocutores que vos vou apresentar fiquei a saber mais um bocadinho sobre estes problemas é isso que quero aqui partilhar.

Opinião de João Miguel Vaz (resposta Henrique Agostinho):

Caríssimos,
Primeiramente, queria explicitamente dizer aos interessados neste debate que sou um defensor acérrimo da reciclagem e da recolha selectiva de resíduos.
Vivo em Hannover, Alemanha e por isso tenho à disposição uma invejável infraestrutura no que respeita à recolha de resíduos. Em casa, temos vários contentores: papel, “grüne punkt” (ponto verde), resíduos orgânicos, vidro e “restos”(tudo o que não pode ser aproveitado). Para vosso espanto, a recolha (sempre porta a porta) do ponto verde é feita de 15 em 15 dias, tal como a recolha dos restos.
O papel é recolhido semanalmente às terças de manhã, o vidro leva-se ao vidrão e o composto deposita-se numa caixa própria no quintal. Esta prática obriga as pessoas a “conviver” com os resíduos que produzem ! Os resíduos não desaparecem ao fim do dia por magia.

Sempre que visito a família em Portugal, incentivo-os a fazer o mesmo. O argumento é forte, se queremos evitar Centrais Incineradoras e Aterros, a solução passa por separar e reciclar. Permita-me a indiscrição, também separa os restos orgânicos em sua casa?
Ainda durante o meu estágio em Münster separei eu próprio o lixo dos outros, com as mãos (luvas) na porcaria. Isto inserido num estudo sobre as quantidades de cada tipo – metais, vidro, restos…etc. Sei muito bem que custa muito menos aproveitar os resíduos se estes forem separados em casa. Poupa-se tempo, energia e ambiente. Portanto, o Henrique Agostinho partilha do meu entusiasmo pela reciclagem.

Confesso-me algo surpreendido pela recusa do Henrique Agostinho em discutir assuntos que se inserem no âmbito das suas actividades profissionais e assim tentar a desqualificação do debate, invocando a complexidade do assunto e o desinteresse dos leitores. Lembro que foi o Henrique Agostinho que lançou para o texto as afirmações sobre a inutilidade dos retornáveis, e manipulando os dados tentou convencer-nos que as embalagens “usa-e-deita-fora” são as melhores do ponto de vista ambiental. (…)

É neste ponto que discordamos porque temos pontos de vista muito diferentes e acesso a outro tipo de informações e experiências. Na Alemanha, há uma quota para os retornáveis que é de 72% para todos os produtos líquidos, i.e. refrigerantes (não alcoólicos) , água, leite, cerveja…

Quando esta quota baixa são tomadas as iniciativas necessárias. No início de 2003, foi introduzida a obrigatoriedade de retornáveis para as latas de alumínio ( 25 cêntimos – 033 l; 50 cêntimos – 05 l). As empresas embaladoras e os grandes supermercados entraram em guerra com o Governo porque os “usa-e-deita-fora” são muito mais rentáveis do ponto vista comercial, mas muito piores do ponto de vista ambiental e social (emprego). Como já substanciei no e-mail anterior, os retornáveis têm vantagens ambientais indiscutíveis. Se o Henrique Agostinho tem outros dados, pode apresentá-los.
E, porque é que os retornáveis são pouco realistas? Se funcionam na Alemanha e na Suécia, onde o factor trabalho é caríssimo, porque é que não hão-de funcionar em Portugal ?

Estou plenamente convencido que os investimentos nesta área em pouco tempo reduziriam em muito a massa de resíduos que a Ponto Verde tem que tratar. (…)

Eu estou acima de tudo interessado em minimizar o uso de embalagens. A embalagem é um “mal” a evitar, porque quase sempre é uma dispendiosa (ambientalmente e economicamemte) ineficiência do sistema. Convém-se elucidar-se os leitores que a panaceia da reciclagem da maioria das embalagens de plástico é na realidade um “downcycling” e não um “recycling”. Isto porque os produtos que resultam do aproveitamento dos resíduos são de menor valor que o produto reciclado em si. Um saco de plástico negro não tem o mesmo valor de uma garrafa translúcida de água. A reciclagem do vidro e dos metais pode genericamente ser considerada como verdadeira reciclagem, com o custo ambiental (essencialmente energético) que isso acarreta. Só no caso da compostagem se pode falar de “upcycling”. O produto final, o adubo, tem um valor superior aos resíduos orgânicos com um “input” energético mínimo.

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