Adufe 5.0

As armas do meu adufe não têm signo nem fronteira
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As armas do meu Adufe,
não têm signo nem fronteira.

Bem-vindo ao Adufe 5.0


Elevador (act.)

04.09.2003 por Rui Cerdeira Branco Categoria As Crónicas e os Contos

É para o 15º, por favor.

I

Ting!

De tantos serem os sítios e situações de encruzilhada que existem neste mundo, todos os dias acontecem pequenos milagres, autênticas aberrações estatísticas.
Como é possível serem dez para as duas da tarde de uma quinta feira e o elevador da torre um das amoreiras disparar para o alto saíndo do rés-do-chão com apenas duas pessoas lá dentro?
Testemunhas do milagre apenas os intervenientes: uma rapariga e um rapaz, ambos na casa dos vinte, ambos auditores em multinacionais rivais e vizinhas.
Ela chegou perto do hall dos elevadores e realizou mecanicamente os poucos passos necessários para chamar a máquina: primido o botão, o primeiro com seta para cima que abrisse as portas era o seu. Não demorou meio minuto até que chegasse e ela entrou. Só reparou que ninguém a seguia, que estava sozinha, quando a noção de espaço foi ampliada pelo espelho que ocupava a toda a altura o interior do elevador. Naquele momento era normal que estivesse a ser condicionada, apertada para os fundos, provavelmente pisada e empurrada. A rapariga despertou do turpor mecanizado e deitou a cabeça para fora, incrédula, espreitou ainda a seta luminosa e confirmou que não havia engano… Ia subir.
Ele entrou de supetão quando as pesadas portas já se fechavam e quase levou os joelhos ao chão com o arranque violento da aparelhagem elevatória em direcção ao sétimo piso, destino pré-programado pela moça.
Não fora a traição do espelho do elevador e nem um olhar teriam trocado. Ela ajeita uma madeixa aqui, um bricozinho acolá; ele vai de endireitar a gravata e de carregar no botão que “já me esquecia”.
É o rapaz a pôr o indicador em acção e o elevador a estacar bruscamente entre o 3º e o 4º andar.
Salta um susto do peito da moça que depressa se recompõe dardejando, de seguida, olhares assassinos em direcção ao inocente desaventurado. Ela carrega de novo no botão que diz sétimo piso e depois em outros, mas o elevador não se mexe.

II
Priiiiiii. Priiiiiii.
Nada.
Priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Nicles.
A rapariga sopra às madeixas não poupando os pulmões.
Já vai! Ouve-se distante a voz do zelador.
Priiiiiiiiii.
Já vai ! Porra! Tenho de esperar pelo outro elevador para aí chegar!
Só faltava agora o homem ficar preso no outro! desabafa a rapariga para as portas fechadas.
Dizem que havendo companhia, a maioria das pessoas não aguenta estar 8 segundos num elevador em silêncio total… Quando as palavras dela ditas para as portas casmurras ameaçaram pisar a referida distância temporal, o rapaz desenrola a seguinte história, olhando também as portas e pondo as mãos atrás das costas, quase em sentido.
Um dia fiquei preso num elevador na Madeira. Fui fazer uma auditoria na Electricidade da Madeira e ficámos três presos no elevador: eu, o meu manager e o director financeiro da empresa… Era sexta-feira, já passava das sete e o prédio estava vazio. Segundo o director financeiro os seguranças da empresa não faziam rondas durante os fins de semana. Dizia-nos com o seu madeirense macarrónico e com ar preocupado que eram “fortes as probabilidades de termos de passar ali dois dias e meio!”
A ideia de imitar a pronúncia madeirense ainda passou pela cabeça do rapaz mas o sentido do ridículo deu-lhe outros conselhos.
Estávamos enfiados num elevador minúsculo onde mal cabiamos de pé… Tinha para aí um quarto do tamanho deste! O elevador dava para três pessoas e marcava um máximo de 250 quilos. Eu confesso que nessa altura já pesava bem uns 80… O director e o meu manager pesavam juntos, à vontadinha, 250 quilos! Com envergadura a condizer!
Perante a ausência de sinais de enfado, o rapaz a esta altura já fazia gestos largos com as mãos e deixara de olhar as portas…
Passou-se a primeira meia hora e já pensava em água e na comida! Num assomo de esperança… Num quê? Perguntou ela. Assomo, replicou ele sorrindo. Visto não ter havido vestígios de paternalismo no sorriso dele, ela concedeu e sorriu também, moderadamente.
O que eu queria dizer é que me lembrei de usar o telemóvel mas não tinha rede! E estava a ficar… aflitinho.
O rapaz resolveu mostrar um sorriso a apelar à cumplicidade e fez uma pausa no discurso. Ela olhava-o inexpressiva, talvez expectante, talvez não… Vai-se a ver e se calhar aquele tipo de lembranças não estavam com nada num momento como aquele!
Continuou: Ainda não tinha passado uma hora quando a maquineta se pôs a andar. Tinha havido uma falha de corrente eléctrica na Electricidade da Madeira!!
Ela riu-se, ou melhor, sorriu, talvez da anedota, talvez do jeito meio tonto e trapalhão com que o rapaz foi contando a história. E deixou ficar o sorriso nos lábios enquanto se virou de novo para a campainha de alarme.
Priiiiiiiii.
O elevador retomou a sua marcha quase de imediato e parou no 4º andar.
Esperava-os o zelador:
Já está em ordem, arranjámos a avaria. Aliás, não houve avaria, desligámos… foi um circuito, sem querer… e o elevador ficou sem corrente. E vai de coçar a cabeça, fazer um ar traquina e atirar umas desculpas gagejadas. Está como novo!
Não chegaram a sair. Fecharam-se as portas e ela perguntou: Vai para qual?
É para o 15º, por favor.

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