via A Praia

(…) Antes do declínio e desaparecimento da União Soviética, os Estados fracos e os descontentes podiam esperar ganhar alguma coisa lançando uma superpotência contra a outra. Agora os fracos e os descontentes estão sozinhos. Sem surpresa, atiram-se aos Estados Unidos como o agente ou símbolo do seu sofrimento. Os actos terroristas de 11 de Setembro impeliram os Estados Unidos a alargar as suas já insufladas forças militares e a estender a sua influência a partes do mundo que os seus tentáculos não tinham ainda alcançado.
Feliz ou infelizmente, os terroristas contribuem para a continuidade da política internacional. Dão sequência a tendências já em curso. Por que é que a perspectiva do terror não altera os factos essenciais da política internacional? Porque todos os Estados – sejam autoritários ou democráticos, tradicionais ou modernos, religiosos ou seculares – temem ser seus alvos. Os governos prezam a estabilidade, e acima de tudo prezam a continuação dos seus próprios regimes. O terror é uma ameaça à estabilidade dos Estados e à tranquilidade dos seus governantes. Por isso é que o presidente Bush pôde com tanta facilidade reunir uma coligação com um quilómetro de tamanho.
Contudo, como o terrorismo é uma arma de fracos, os terroristas não ameaçam seriamente a segurança dos Estados. Os Estados não se vêem por isso compelidos a unir-se para contrabalançar a relação de forças mundial. Os atentados terroristas não alteram as principais bases em que assenta a política internacional nem alteram uma situação de recorrentes crises. É por isso que, embora tenha um quilómetro de tamanho, a coligação anti-terrorista tem apenas um centímetro de espessura.

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