Há zonas do país onde a floresta é uma indústria na qual participam grandes e pequenos proprietários todos conscientes do que fazem. Tomemos o exemplo do pinheiro. No acto da venda a árvore é valorizada individualmente regateando-se o preço. A árvore tanto pode valer 10 como 40 euros dependendo do porte, cubicagem, etc. Noutras zonas, a esperteza de uns e a sandice dos outros levam um pinhal a ser vendido a olho, por atacado, sem que se saiba sequer quantas árvores de vendem. Não é raro com uma venda desaparecerem no camião do madeireiro o pinhal vendido e os vizinhos. Os proprietários vitimizados são muitas vezes idosos, pouco sabedores de como funciona o resto do negócio ou então (no caso dos integralmente roubados) estão ausentes, são herdeiros de um país que não podem cuidar. Às leis do mercado faltam aqui algumas premissas básicas para que funcione eficientemente…
Voltemos ao pinho. É plantado de raiz segundos leis da geometria agronómica ou, então, mais artesanalmente, é seleccionado caso nasça após um abate das antigas árvores que largaram pinhões. Todos os anos o pinheiro cresce e é conveniente moldar a árvore aos intentos. Tratando-se de um pinheiro bravo, bom para lenha, mobiliário ou pasta de papel, leva-se a árvore ao “ginásioâ€? cortando os galhos mais baixos, canalizando forças para que cresça em altura e em diâmetro.
No início, quando a sua sombra não impede o sol de alimentar outros arbustos, é importante derrubar giestas, carapeteiros, urzes e estevas. Ao fim de poucos anos, esses concorrentes deixam de ser preocupação, o sol escasseia por debaixo e o pinhal consegue-se manter limpo com pouco esforço, a coberto do risco de pequenos fogos. Sobram as pinhas e a caruma que em muitos casos são fonte de rendimento e causa de cobiça; basta que para tal não seja muito penoso o passeio entre a lareira e o pinhal. Dependendo da terra, da qualidade dos genes, da densidade das árvores, do clima e outros que tais, em 20 e poucos anos podemos ter um belo pinhal pronto para abate e nova cultura, de pinheiros ou outras árvores.
O interior que eu conheço melhor é o do exemplo dos espertos e dos ensandecidos. Poucos há para cuidarem da serra porque poucos há com força para erguerem um malho ou controlarem uma moto serra. Entre os que sobram, os que não emigraram e a prole que resta, parece grassar uma fobia serôdia de trabalhar no campo. Estamos num beco sem saída, aparentemente, nem os ucrânianos nos valem.
Os pinhais vão ficando ao abandono. Se assim falo dos pinhais é porque dos soutos ou carvalheiras já pouca história conheci. Um sobreiro aqui um azinheira ali. Entre doenças e vistas curtas os Quercus são quase só monumentos em ruínas do esplendor de outrora. Nas serranias onde o granito e o xisto não surgem descobertos de terra, dominam as resinosas e os outros, os perfumados da Austrália. O eucaliptal das grandes celuloses que vai enchendo as serras (ordenado, desertificando) surge como único exemplo algo perturbador de uma ligação cada vez mais distante entre o homem da raia e a floresta.

P.S.: Há alguns anos que se fala de uma reforma do imposto sobre prédio rústicos. Espero que o Estado esteja em condições de assumir a propriedade de largos milhares de hectares de terra e que tenha, depois, vocação de povoador, pois nesta zona que melhor conheço, ganharia não o imposto mas a terra.

Discover more from Adufe.net

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading