O cromo mais repetido que há neste país tem cerca de 28 anos. Foi por volta de 1975 1976 que o número de nascimentos em Portugal registou o último pico, dai em diante até 1995 sucederam-se diminuições de nascimentos anuais. A quebra parece ter estancado nesse ano com ligeiras recuperações anuais desde então (excepção: ano 2001).
Hoje o INE divulga os dados mais recentes apontando para uma nova recuperação, ténue, no número de nascimentos.

Felizmente a demografia não é uma ciência exacta. Se o fosse o quebra de natalidade que registamos não deveria ter parado. E as projecções mais catastrofistas com consequências, por exemplo, na ruptura do sistema de segurança social estariam na iminência de se comprovarem a muito curto prazo.
A que se devem estas recuperações? Talvez um pouco às comunidades aqui imigradas, talvez devido a alguma singularidade temporal de termos a chegar à idade mais profícua um contingente significativo de indivíduos, talvez devido a algum incremento nos segundos e terceiros filhos em idades mais tardias. Um teste aos número talvez seja esclarecedor.
O facto que aqui comento é, no entanto, a incremento ténue de que falei e a apatia geral para o problema. Tão ténue que nem com a chacina diária nas estradas, nem com as outras mortes que nos vão ceifando há cerca de 28 anos acredito que tenhamos deixado de ser o cromo mais repetido.
Uma das leis modernas da demografia que está aí para se quebrar afirma que os filhos vêm cada vez mais tarde e com menos frequência…
“É o individualismo! Já ninguém se dispõe a ter filhos! O mundo é um lugar horrível!â€? Será por isto?
Estamos nos suicidando a bem da natureza?
Quanto mais tarde surge o primeiro mais provável é que os desejos fiquem por cumprir. Que desejos? Em 2001 num congresso sobre estudos da população em Helsinquia alguns especialistas sublinharam precisamente essa incompletude descrita pelas mulheres inquiridas ( de várias nacionalidades de origem europeia).
A maioria gostava de ter tido dois ou mais filhos mas a carreira, a perda de alguma liberdade, a desagregação da família, os custos financeiros apareciam numa enorme lista de limitações… Em cada país identificam-se prioridades diferentes mas o resultado final tem variado pouco, assim como aquele que parece ser o desejo profundo (pelo menos) das mulheres.
Neste país minguante onde vivemos, nada de verdadeiramente activo e estruturado temos feito para enfrentar este problema. Assumimo-lo como inevitável e cruzamos os braços e o resto… O máximo que fazemos é discutir a questão económica entregando a propostas neo-liberais à “solução” para o aterrador cataclismo que sobre nós se vai abatendo paulatinamente.
Não havendo, historicamente, soluções fáceis – pois tocamos incontornavelmente na vontade íntima de cada um – há algumas experiências felizes por esse mundo fora que poderão reduzir as dimensões agonizantes do problema e conferir-nos alguma hipótese de equilíbrio.
Acredito que haja, de facto, limitações importantes para quem quer formar uma família. A realidade que temos é também em boa parte uma consequência do ajustamento económico que temos na sociedade em geral e nos meios urbanos em particular.
Por que raio não estamos nós dispostos a mexer uma palha para enfrentar este problema? Ou não há problema?

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