A propósito da visita do Presidente Lula a Portugal ocorrem-me as palavras do General Loureiro dos Santos em entrevista ao Jornal 2 da RTP há já alguns dias. O General foi interpelado sobre os porquês do estado português apontar recorrentemente o centro estratégico da sua política de alianças para fora do eixo continental europeu. Há vários séculos que nos aliámos ao Reino Unido e agora, perante uma cisão trans-atlântica não tivemos dúvidas em alinhar com os Estados Unidos e mesmo em ajudar a formar a cisão. As explicações do general foram cristalinas e baseiam-se largamente na necessidade de compensar as óbvias limitações nacionais (localização geográfica longe do centro da Europa, pouca dimensão económica, política e demográfica face a um vizinho de grande dimensão, etc). Estes foram os argumentos que retive e que justificam em larga medida essa necessidade de cativar fora da Europa, junto de um aliado forte para ganhar uma relevância que poderá ser fulcral para o bom sucesso de quaisquer disputas a ter, nas quais o interesse nacional esteja em jogo. Uma espécie de ganhar dimensão, relevância crítica, para não sermos engolidos, já não pelo caminho das descobertas mas pelo dos laços estratégicos dominados pela real politik.
Ah! como seria bom que do outro lado do Atlântico houvesse um grande Brasil!

É demasiado desconfortável para uma boa parte dos portugueses, entre os quais me incluo, ver o nosso país “forçadoâ€? a seguir este alinhamento estratégico, sem ter qualquer certeza ou afinidade com as práticas utilizadas pelo aliado para implementar a sua cartilha política, que é, adicionalmente, demasiado nebulosa e errática. Parece-me que estamos quase, quase a vender a alma ao diabo.
O nosso aliado eleito, mais do que ser polícia do mundo parece-me precisar de muita ajuda, compreensão e apoio psicológico… Não fosse o mundo como é e deveria ser proibido de brincar com armas… Mas o mundo é como é e apesar dos desequilíbrios da psique americana ainda seria pior a emenda que o soneto, pelo menos – e apesar do Iraque – por enquanto. Como imaginar, então, um mundo diferente? E como chegar lá sem hostilizar americanos nem os ignorar? Olhar primeiro para a América Latina talvez…
Um sonho bonito que tenho é ver o Brasil – há décadas parte de uma espécie de quintal do horrores patrocinado pelos EUA – conseguir ser a grande potência mundial que merece ser, democrática e mais igualitária. Espero sinceramente que o actual presidente brasileiro e os que lhe sucedam consigam manter a bandeira da aposta no desenvolvimento como arma primordial de combate ao terrorismo e ao narco-tráfico. Muito poucos conseguiram ter sucesso por esse caminho mas foram também poucos os que alguma vez o tentaram de facto.
Espero que Portugal consiga mostrar-se à altura de ajudar essa grande nação com todos os recursos disponíveis. O destino de Portugal enquanto nação viável está muito ligado ao sucesso ou insucesso do Brasil e das ex-colónias e vice-versa. Tendo que ter sempre aliados além mar, nunca teremos paz arranjando aliados contra o resto da Europa.
É medonho o cenário do domínio em roda livre por uma potência omnipotente e omnipresente que vê essencialmente no poder das armas um “último recurso” de acção utilizado demasiado levianamente. Haja o bom senso norte americano para não minar entendimentos com o Mercosul e com a União Europeia que algo de muito dramaticamente positivo pode vir a acontecer.
É assustador olhar para uma Europa demasiado ensimesmada e apática. É da alegria e entusiasmo dos portugueses à solta que andam pelo Brasil de que o mundo precisa. Tal como vejo em todos os Brasileiros em pouco de Portugal já é tempo de nós sermos também um pouco de Brasil nas suas cores múltiplas e múltiplos desafios.

Sai um docinho brasileiro se carregar aqui.
Imagem da bandeira do Brasil obtida em http://www.quatrocantos.com.

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